Traumas na Infância como Causa do Transtorno de Personalidade Borderline 

Todos nós ao longo de nossas vidas tivemos momentos que despertaram ou ainda despertam diversas emoções e nos traumatizam. De acordo com Sigmund Freud em suas pesquisas iniciais, o adulto neurótico, com problemas e sintomas psíquicos, teria passado por um ou mais eventos traumáticos na primeira infância. Estes eventos estavam ligados à ideia do Complexo de Édipo. Porém, depois de pesquisar mais, ele chegou à conclusão de que esses traumas não existiam. Ou melhor, as experiências ruins podiam até acontecer, mas o que importava para o surgimento da neurose era a fantasia inconsciente do paciente. O problema, portanto, não seria o trauma e sim, a fantasia inconsciente causada no passado.  

E faz todo sentido! Afinal, por qual razão irmãos que vivenciam os mesmos eventos dentro de um ambiente familiar, agem e lidam de formas diferentes? Certamente porque cada um de deles cria uma fantasia diferente na mente inconsciente para lidar com as situações traumáticas do cotidiano. 

Como citado acima, é comum vivenciarmos e despertarmos emoções ao longo do nosso dia, porém, para uma pessoa com Transtorno de Personalidade Limítrofe, ou seja, com Transtorno de Personalidade Borderline, essas emoções oscilam com uma facilidade e intensidade que muitas vezes se torna desproporcional ao fato real. É um transtorno onde o indivíduo tem mudanças de humor frequentes, as relações sociais e pessoais são instáveis e o estado de espírito emocional é inconstante. Os indivíduos que sofrem com esse transtorno têm medo de que suas emoções fujam do controle e, por isso, tendem a se tornarem mais irracionais em situações de estresse, criando uma relação de dependência com as outras pessoas, dificultando inclusive as relações afetivas e sociais. 

Mas, o que leva uma pessoa a desenvolver esse transtorno? As causas do Transtorno de Personalidade Borderline estão relacionadas a situações traumáticas durante a infância. Alguns fatores que levam ao desenvolvimento podem ser de predisposição genética, experiências como enfrentar doenças graves ou morte de entes queridos, situações de abuso ou negligência, trauma emocional, bullying físico, chantagem emocional, instabilidade familiar, entre outros. Uma infância violenta constrói no indivíduo a necessidade de apresentar comportamentos excessivamente defensivos, o que leva ao perpétuo medo do abandono. 

Geralmente esse transtorno de personalidade se desenvolve na adolescência e vai ficando cada vez mais frequente com o passar dos anos. A pessoa diagnosticada com o Transtorno de Personalidade Borderline possui relações pessoais intensas e instáveis. Outros principais sintomas são: 

  • Alterações de humor ao longo do dia: nem sempre essas alterações estão associadas a raiva, as vezes pode ser ansiedade, desespero, pânico, medo, irritação, impulsividade ou insegurança. Essas mudanças de humor tornam muito difíceis de manter as relações pessoais e profissionais; 
  • Instabilidade; 
  • Medo do abandono: as pessoas que sofrem desse transtorno vivem com medo do isolamento e de serem abandonadas, de não serem atendidas ou serem deixadas sozinhas. Esse medo é um dos aspectos mais presentes, mesmo em estágios iniciais. E normalmente elas acabam evitando o contato com as pessoas, como forma de fugir da dor do abandono; 
  • Impulsividade (gastos descontrolados, consumo exagerado de comida, outras substâncias e sexo): sem motivo ou razão, as pessoas que sofrem com esse transtorno podem tomar ações impulsivas. Não é incomum ver a pessoa entrar em um relacionamento e de repente terminá-lo, ou sair de um emprego aparentemente estável ou ainda abandonar os estudos. A maioria dos pacientes com esse transtorno tende a entrar em vícios comuns, como sexo extraconjugal, drogas ou álcool etc. Normalmente são feitos para superar o profundo sentimento de tristeza e vazio que eles possuem; 
  • Incapacidade de cumprir regras e obedecer a leis; 
  • Baixa autoestima e autodepreciação: este é um problema muito comum. Devido à constante negligência e abuso no início da vida, eles podem considerar-se muito ruins. 

Tudo isso também alimenta os outros sintomas; 

  • Sentimento de solidão e vazio: a sensação de vazio é um relato recorrente de quem sofre com esse transtorno. O vazio se torna tão intenso ao ponto de não conseguir preenchê-lo com a própria companhia, sempre necessitando do outro, promovendo assim uma dependência afetiva cada vez maior e causando cada vez mais sofrimento tanto para ela quanto para a outra pessoa com quem convive. Gera com isso uma sensação de sufocamento e peso imenso na pessoa que convive com o paciente, ficando cada vez mais difícil de suportar. Essa sensação de vazio, no entanto, aumenta a necessidade dos hábitos ruins já citados anteriormente, como o consumo em excesso, uso de drogas, o consumo exagerado de comida etc.; 
  • Atos auto lesivos e tentativas de suicídio: a autodepreciação, o medo do isolamento e o estado emocional geral instável podem levá-los a ideação suicida. Algumas tentativas podem ser falsas para atrair a atenção enquanto outras podem ser concretas. 

Devido aos transtornos causados nos diversos papeis sociais do indivíduo com a doença, o acompanhamento com o psicoterapeuta e o psiquiatra são de extrema importância. É importante também que a pessoa confie em seu terapeuta e se sinta confortável para se abrir com ele. O processo de psicoterapia é realizado a fim de ressignificar as vivências do passado, para então dar voz e acolher a essa criança interior ferida, além de auxiliar a controlar os impulsos e entender melhor sobre o significado dos comportamentos, a fim de reduzir o sofrimento e prejuízos nas relações e produtividade. O acompanhamento psiquiátrico também é necessário para o cuidado integral dos sintomas e para melhora do quadro clínico. 

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