Primeiramente, antes de explorar como se formar um psicanalista, gostaria de explicar brevemente o que é a psicanálise, pois existe ainda muitas dúvidas entre a diferença da psicanálise e a psicologia. A prática psicanalítica se baseia na análise como forma de tratamento que se utiliza de técnicas e ferramentas investigativas específicas para o tratamento daqueles que buscam seu autoconhecimento e/ou resoluções e entendimento de perturbações que assolam a psique humana. Nas palavras de Freud (1922), “chamamos de psicanálise ao trabalho pelo qual levamos à consciência do doente o psíquico recalcado nele”.
Segundo La Planche e Pontalis (1996), a psicanálise pode ser dividida em três níveis:
- Um método investigativo que consiste essencialmente através da associação livre evidenciar o significado inconsciente das palavras, ações, das produções imaginárias (sonhos, fantasias, delírios) de um sujeito.
- Um método psicoterápico (abordagem terapêutica), denominado análise que se baseia na investigação e interpretação controlada pela resistência da transferência e do desejo.
- Um conjunto de teorias psicanalíticas e psicopatológicas (uma “ciência” psicanalítica, que aprimorou seu campo próprio de saber), em que são sistematizados os dados introduzidos pelo método psicanalítico de investigação e de tratamento.
A diferença entre a psicanálise e a psicologia, portanto, está apenas na peculiaridade, métodos e atuações e nas formações distintas de cada uma. O psicólogo é o profissional formado na faculdade de psicologia, ciência que estuda o comportamento e a mente humana, ou seja, o psicólogo atua no estudo da mente humana, identificando os problemas relacionados ao comportamento.
O Psicanalista, por outro lado, é um profissional, médico, psicólogo, ou mesmo com outra formação, que possui especialização em Psicanálise – um campo clínico e de investigação teórica da mente humana, independente da Psicologia, embora derivada desta. Desenvolvida por Sigmund Freud – médico neurologista austríaco que propôs este método para a investigação da mente, do entendimento sobre a vivência e o comportamento do homem enquanto sujeito do inconsciente.
Entendendo isso, qualquer pessoa que busque um tratamento emocional para lidar melhor com suas emoções, suas relações interpessoais e a vida familiar, social e profissional pode buscar a ajuda tanto do psicanalista quanto do psicólogo.
Mas como a formação de um analista ocorre de forma subjetiva e haverá diferenças na forma de concebê-la, é importante que nessa formação considere três pilares fundamentais para se formar um psicanalista: a análise pessoal, o ensino teórico e a supervisão clínica. Essa é a estrutura base para se formar um psicanalista. Logo, se você encontrar instituições que ofereçam algo fora disso, certamente essa formação não está seguindo a estrutura base de um bom profissional. Está será uma propaganda enganosa ofertada e certamente, se você deseja ser um profissional capacitado, deverá fugir desse tipo de instituição.
Como em toda disciplina, a especificidade da transmissão de conhecimento da Psicanálise, da qual Freud formulou algumas exigências para um Instituto ou uma escola, requer que o saber esperado do psicanalista seja acrescido da experiência “em si” de uma análise, cujas modalidades de realização são reguladas por associações privadas. E cada uma delas tem relação particular com Freud ou seus sucessores.
No entanto, a formação em psicanálise é um processo complexo comparado a uma formação universitária, por isso, constituir um espaço de formação é bastante audacioso. Este tema inclusive gera bastante polêmicas, porém, um ponto que se apresenta como de acordo entre psicanalistas de diferentes linhas teóricas é que a formação deve se basear nos três pilares já citados: análise pessoal (ou didática), supervisão (também conhecida como análise de controle) e estudo teórico. Embora a formação deva ser baseada nesse tripé, o ponto fundamental e o lugar por excelência do tornar-se psicanalista é a análise pessoal.
Freud (1910) considera a análise pessoal a única via de acesso do analisando para o saber do inconsciente e a transferência. Já Lacan na Proposição de 09 de outubro de 1967 subverte o status quo da formação em psicanálise, quando escreve que… “O psicanalista é autorizado apenas por si mesmo”. Tal “questão de princípio” além de reafirmar o lugar privilegiado da análise pessoal na formação do psicanalista, convoca aos analistas para que deem conta de suas análises e do momento em que se tornaram suporte do discurso analítico. Desvincula a formação do psicanalista de qualquer controle ou normatização institucional, pois autorizar-se psicanalista “reside na capacidade do sujeito de usar seu próprio inconsciente como um instrumento” e isto só é possível para quem já passou pessoalmente pela experiência do inconsciente.
Para ocupar o lugar de um analista, portanto, é necessário que ele tenha lidado com seus próprios desejos e afetos. Caso contrário, na prática, este analista irá “travar”, não conseguindo dar conta da demanda recebida, dificilmente conseguirá acessar o inconsciente do analisando e completar o percurso. Casa analista deverá encontrar o seu “estilo” de atendimento e de trabalho, porém jamais deixando de observar cada paciente, afinal, todos são pessoas diferentes e será necessário reinventar a psicanálise, deixar que um novo saber emerja e você como analista se surpreenda com os resultados.
Dessa forma, podemos afirmar que os estudos da psicanálise nunca param, ou seja, é uma formação permanente e não se deixa definir por um currículo. Logo, o tempo necessário para se tornar um analista não pode ser determinado, pois se trata de um tempo lógico e único para cada sujeito e que é a análise que produz o psicanalista. Portanto, tentar regulamentar a profissão de psicanalista só irá desvirtuar a proposta de Freud de busca da verdade do sujeito através da abertura do inconsciente, mantendo assim o espaço para a invenção.
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