Freud, o “pai” da psicanálise, através da sua prática clínica observou que o desenvolvimento psicossexual é o elemento central da teoria psicanalítica dos instintos, para a qual os seres humanos, desde o nascimento, possuem uma libido (energia sexual) instintiva que se desenvolve através de cinco estágios. Essa teoria até hoje é referida pela maioria dos autores. Ele classificou então, o desenvolvimento sexual em cinco fases: oral, anal, fálica, latência e genital, conforme a idade do indivíduo e a localização corporal da principal fonte de sentimentos prazerosos. Hoje compreendemos que esse desenvolvimento se dá até a terceira idade.
Mas, o intuito nesse momento não é explorar cada fase, e sim dar ênfase à fase fálica, desenvolvida dos 3 aos 6 anos de idade. É a partir desse momento que a criança passa a ter curiosidade sexual, seu comportamento passa a ser voltado aos órgãos genitais, ou seja, de manipulação dos órgãos genitais e começa a descobrir as diferenças entre os sexos. É a fase dos “porquês”! Sendo assim, perguntas do tipo: “por que meu pênis é diferente ao do papai?” e “por que a mamãe não tem pênis?” são comuns.
Ela começa além de perceber que existe essas diferenças, passa também a entender o mundo em pares, desenvolvendo a fantasia pelo genitor do sexo oposto. Logo, a menina passa a enxergar seu pai como seu primeiro amor e o menino à mãe. De acordo com Freud, a criança passa a ter um desejo inconsciente pelo sexo oposto. A este “triângulo amoroso” Freud denominou de “Complexo de Édipo”, baseado na peça homônima “Édipo rei”, escrita na antiguidade por Sófocles. Freud define o Complexo de Édipo como um conjunto organizado de desejos amorosos e hostis que a criança experimenta relativamente a seus pais.
Posteriormente, Carl Jung estudou o vínculo especial que a filha mulher desenvolve com o pai, durante os primeiros anos de vida, e chegou a uma importante teoria sobre o desenvolvimento psicossexual das meninas: o Complexo de Electra. Ele baseou-se no mito grego de Electra, filha de Agamemnon, a qual quis que o irmão se vingasse da morte do pai de ambos matando sua mãe Clitemnestra.
Freud, no entanto, rejeitava o uso de tal termo por este enfatizar a analogia da atitude entre os dois sexos. O complexo de Electra é, muitas vezes, incluído no complexo de Édipo, já que os princípios que se aplicam a ambos são muito semelhantes.
Em meio a essas descobertas e entendimentos de Freud, tanto de seus casos com as histéricas, como em seu período de autoanálise (1895-1899), ele, em um sonho que tivera com sua filha Mathilde, constataria que “(…) certamente é o pai o promotor da neurose” (CARTAS A FLIESS, SBI). Ou seja, a ideia de que há, de fato, um desejo (inconsciente) que acomete sua filha, e mostrava os sentimentos mais ternos pelo pai.
“Encontrei em mim, como em toda parte, sentimentos de amor por minha mãe e de ciúme em relação a meu pai, sentimentos que são, creio eu, comuns a todas as crianças pequenas, mesmo quando não aparecem tão precocemente como naquelas que foram tornadas histéricas…Se for assim mesmo, compreende-se, apesar de todas as objeções racionais contra a ideia de uma fatalidade inexorável, o efeito arrebatador do Édipo rei.” (CARTAS A FLIESS, SBI).
Contudo, é de extrema importância que os pais entendam e conheçam essas descobertas de Freud e, então, passar a observar o comportamento dos seus filhos nessa fase de desenvolvimento, caso contrário, por falta de informação, não saberão lidar com as dúvidas da criança, podendo assim reprimir ou serem complacentes de forma excessiva com alguns comportamentos, como por exemplo o comportamento masturbatório. Outra consequência é que não saberão conduzir à criança para que ela entenda que a mamãe ou o papai não são seus pares amorosos.
Então, quais são os sinais que a criança passa a dar? Que comportamentos são comuns observar nessa fase de curiosidade e de manipulação dos genitais?
Como citado anteriormente, é comum que a criança desenvolva um carinho especial pela figura do sexo oposto: no caso da menina pelo pai e no caso do menino pela mãe. Mas, se o apego for excessivo e superior ao vínculo com a mãe (menino) ou com o pai (menina), é importante observar esses sinais e comportamentos que a criança passará a esboçar:
a criança sustenta a ideia de que, quando crescer, se casará com o próprio pai (menina), com a própria mãe (menino) ou repete outras frases que demonstrem esse nível de afeto;
Aqui começam as perguntas do tipo: “mamãe/papai com quem vou me casar?” e “posso me casar com você?”.
a criança se sente desprotegida na ausência do progenitor e chora de forma excessiva toda vez que precisa se afastar do pai (menina) e da mãe no caso do menino;
a criança sente um nítido ciúme ao ver a troca de carinho entre a mãe e o pai e sempre faz questão de ocupar espaço entre os dois;
há uma leve demonstração de rancor da menina em relação à figura materna, e do menino na figura paterna, pois ela acredita que a mãe (menina) e o pai (menino) pretendem roubar o amor do pai/mãe.
Sendo assim, como os pais, entendendo da existência do Complexo de Édipo, devem agir para que a criança compreenda que o pai e/ou a mãe não são de fato o seu par amoroso e sim apenas seus pais? Primeiro, é de suma importância que os pais não se espantem com isso, ajam de forma natural e a acolham de forma afetuosa. Por fim, e principalmente, não devem encorajar nenhuma fantasia que a criança desenvolva, no caso da menina à figura paterna e do menino à figura materna. Os pais devem deixar bem claro qual é o verdadeiro papel que eles ocupam na vida dos filhos.
Quando a criança se comportar com ciúmes ao ver trocas de afeto entre seus pais, eles devem explicar que é natural esse carinho entre eles. Os pais devem orientar que a criança, quando crescer, irá encontrar seu próprio par e se relacionará da mesma forma.
Infelizmente, no entanto, por falta de conhecimento, observamos nessa fase comportamentos de alguns pais, que trocam “selinhos” com seus filhos entre outras situações, alimentando mais ainda essa fantasia. Quando essa criança crescer, tal comportamento dos pais irá refletir no jovem adulto, gerando uma certa dificuldade em se relacionar ou de fazer escolhas amorosas. Por outro lado, quando tratado com naturalidade, será tranquilo para criança perceber e tomar consciência que é impossível realizar seu duplo desejo. Ela então, naturalmente vai entrar num processo de identificação com o genitor do mesmo sexo e não o enxergará mais como rival, superando o Complexo de Édipo e desenvolvendo-se de forma sadia.
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