“Para alguns, o amor e desejo são partes inseparáveis de um todo maior, ao passo que, para outros, não tem ligação alguma. Quase todos nós, porém, expressamos nosso erotismo nas áreas cinzentas em que o amor e o desejo se relacionam e entram em conflito!” (Jack Morin, A Mente Erótica) |
Mais intimidade, menos sexo: o amor busca proximidade, mas o desejo precisa de distância.
Todos nós temos a necessidade fundamental de segurança, procuramos uma pessoa que nos ofereça base, propósito e continuidade. Mas ao mesmo tempo temos uma grande necessidade de aventura e empolgação. Nasce, portanto, o desafio dos casais modernos em conciliar a necessidade de segurança e previsibilidade com o desejo pelo que é empolgante, misterioso e fascinante.
O que venho percebendo com alguns anos de atendimento e estudos é que essa nossa cultura de irmos em busca do amor, da fusão do casal, da necessidade, da expectativa, é a principal responsável pelo aumento do número de divórcios.
Porque não estamos sendo capazes de tolerar o incerto. Queremos GARANTIAS para nos sentirmos seguros, só que a gente tá esquecendo que essa garantia não existe. Não tem como termos certeza de nada. O tal “felizes para sempre”, o “até que a morte nos separe”, são apenas representações interna na nossa mente, baseada na crença instituída ao longo do século XIX pela cultura do amor romântico. Essa crença nos faz acreditar e fantasiar com aquela historinha linda que existe nos contos de fadas ou nos filmes de Hollywood de que vamos ser felizes para sempre ao lado da pessoa que amamos até uns 100 anos. E então, representamos aquela imagem da gente velhinhos dando o último suspiro sentados juntos num balanço.
“Amor, meu grande amor (Amor Meu Grande Amor – Barão Vermelho) |
Mas espera aí gente, para! Isso não existe, isso é apenas uma fantasia criada pela cultura do amor romântico. Vamos cair na real e aceitar que tudo nessa vida é INCERTO. E que se existe uma única certeza nessa vida, essa é a morte. Então, raciocina comigo: você sabe quando a morte vai chegar? Não sabe, né? Mas eu tenho certeza de que você, quando pensou nela agora, se imaginou velhinho e imaginou a pessoa que está do seu lado da mesma forma.
Se a morte é certa, mas o “quando” é incerto, já parou pra pensar como seria a sua vida se você perdesse a pessoa que está aí do seu lado agora?
Pesado né? Mas te convido a fazer essa reflexão, poque quando você entra nessa fantasia que o amor romântico criou na sua cabeça, você só imagina a sua vida com essa pessoa e nunca imagina sem. Você inconscientemente constrói a relação pautada na necessidade, na exclusividade e é a partir daí que nascem as cobranças e as exigências de garantias que por fim vão matar sua relação. Seja pela pessoa não aguentar ser sufocada, seja pela ausência de desejo ou até mesmo por você não suportar viver pedindo essas garantias.
E quando separar e a relação terminar, seja pela morte ou qualquer outra razão qualquer, não saberá viver a sua própria vida, pois você anulou a sua identidade em função de garantias, seguranças, certezas e esqueceu de compartilhar a sua vida com a pessoa que está do seu lado. E honestamente você agindo dessa forma, nem sabe do que realmente gosta e com certeza, quando o fim chegar, ou até mesmo antes, vive um medo, uma ansiedade por saber que depende do outro pra viver. Mais ainda, essa cultura de amor romântico é tão presente e forte que lhe faz crer que para ser feliz é necessário ter alguém consigo, ou seja, não é capaz de ser feliz sozinho!
Então, bora parar de buscar segurança e sim viver mais a sua vida, olhando para os seus valores, desejos, seus projetos de vida e partilhar tudo isso na relação com alguém que compactua dos mesmos pensamentos e sem medo de ser feliz? Vamos parar de querer garantias, onde na real não existe garantia de nada e quanto mais você busca isso, mais você está levando sua relação pro buraco?
Afinal, com o território conquistado, o que acontece? Te faz perder o interesse, te faz ir em busca de outra coisa. Você vai em busca da novidade.
O que te fazia sentir borboletas no estômago no início da relação?
Não era o fato de você não saber que horas a pessoa ia te ligar? Não era a distância? Que dia será que nos veremos de novo? O que será que vamos fazer no fim de semana, se é que vamos nos ver? Era o imprevisível. Isso alimentava a paixão, era o frisson. Isso alimentava o desejo e a vontade de querer mais, certo?! Era esse desconhecido, essa certa insegurança.
“Amor, meu grande amor
Me chegue assim, bem de repente Sem nome ou sobrenome Sem sentir o que não sente Que tudo que ofereço é meu calor, meu endereço
A vida do teu filho Desde o fim até o começo Amor, meu grande amor
Só dure o tempo que mereça E quando me quiser Que seja de qualquer maneira“
(Amor Meu Grande Amor – Barão Vermelho)
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Agora, quanto mais você entra no íntimo do outro, não há mais o que adentrar, não mais o que conhecer. Já ficou tão previsível que perdeu a graça. Já se fundiu, se tornou um só, já se perdeu, não tem mais novidade. A gente desintegra o desejo sem querer dessa forma. Por isso, encontrar o equilíbrio entre o vínculo e a distância é o segredo para as relações duradouras e com a chama acesa.
Ok Cris e Leo, mas como?
Refletindo: já que não tenho garantias, por que eu não escolho desfrutar da vida ao lado de alguém, mas sem a necessidade de ter esse alguém sempre do meu lado?
Aceitando a incerteza e se respeitando e respeitando o outro. Respeitando seus prazeres, seus hobbies, seus valores e compartilhar isso com alguém que se identifique com você. Não necessariamente se identifique com tudo, porque isso é impossível, mas que se identifique o máximo possível e respeitando sua individualidade.
Entendendo que essa pessoa não é obrigada estar com você em todos os momentos da sua vida e nem você na vida dela. Que ninguém tem que deixar de fazer algo pelo fato de não poderem estar juntos. A não ser que isso seja uma escolha sua ou dela e JAMAIS uma IMPOSIÇÃO, seguida de culpa, raiva ou cobrança. Que ambos entendam que a relação é feita de 3: você, o outro e os dois juntos. E o entendimento dessa dinâmica é que fará vocês pararem de exigir exclusividade, garantias e haverá mais respeito a individualidade. E quanto mais respeito, mais vontade de estar junto, mais tesão. Quanto mais pressão, mais obrigação, mais frustração, menos tesão.
Então, se o que move o amor é o vínculo, a entrega, a proximidade, porque não criar conexões compartilhando o seu lado bom, conquistando quem está do seu lado diariamente. E se o que move o desejo é a distância, porque não aceitar que a outra pessoa é um indivíduo, singular, único. Entender que ela não te pertence e tem todo o direito de desfrutar da vida dela livremente e ESCOLHER estar do seu lado porque ela tem tesão disso ao invés de ser OBRIGADA a estar contigo?
Lembre-se: o que segura o gado não é a cerca, mas sim o pasto verde. Cuide, portanto do pasto, dos momentos que ambos com os mesmos objetivos e valores irão viver juntos. É isso que faz a pessoa QUERER estar perto quando ela PODE estar longe.
“A paixão é possessiva, exclusiva. Possui e retem. Mas como é impossível possuir o outro por completo, inventaram a fidelidade, que no fim das contas é uma reciprocidade possessiva. Cada integrante do casal compromete-se a ser fiel ao outro para não o perder, para assegurar-se ‘de que está atado e bem atado.’” (Carmen Posadas, Um Veneno Chamado Amor) |
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