Desenvolvimento Psicossexual: A Sexualidade nas Diferentes Fases da Vida 

A sexualidade é uma das características mais importantes do ser humano e está presente desde os primórdios da vida. O ser humano é movido por suas pulsões libidinais direcionadas à busca do prazer e estas se manifestam muito precocemente. Porém, falar de sexo hoje em dia, ainda é uma limitação para muitos. Essas crenças, tabus e preconceitos são representações sociais da sexualidade que foram construídas, vivenciadas e apresentadas de acordo com cada tipo de cultura, época e ideologias, onde cada construção é uma mostra de comportamentos, costumes, valores e atitudes sexuais que são distintos de época para época, de povo para povo, alternando movimentos de mais repressão ou de mais liberdade. À essa construção, é importante levar em consideração a grande influência da igreja católica que entrou com a normatização e imposição de regras. Freud afirma que a pulsão sexual que atua nas psicopatologias é a mesma que atua nas pessoas que possuem um comportamento considerado adequado, seguindo os padrões instituídos por uma determinada sociedade.

A sexualidade é um fenômeno tão complexo e tem sido objeto de estudo de vários pesquisadores em diferentes áreas do conhecimento como, biologia, fisiologia, sociologia, antropologia, história e psicologia. As contribuições da psicanálise permitiram tornar a sexualidade um objeto de investigação e discussão analítica, como um fenômeno entre tantos outros.

Freud, o “pai” da psicanálise, através da sua prática clínica observou que o desenvolvimento psicossexual é o elemento central da teoria psicanalítica dos instintos, para a qual os seres humanos, desde o nascimento, possuem uma libido (energia sexual) instintiva que se desenvolve através de cinco estágios. Essa teoria até hoje é referida pela maioria dos autores. Ele classificou então, o desenvolvimento sexual em cinco fases: oral, anal, fálica, latência e genital, conforme a idade do indivíduo e a localização corporal da principal fonte de sentimentos prazerosos. Abaixo detalharei uma a uma.

Hoje, podemos compreender que a sexualidade é inerente à vida humana, desenvolvendo-se desde o nascimento até a velhice. E de acordo com Organização Mundial de Saúde (OMS), a definição da sexualidade é:

Um aspecto central do ser humano ao longo da vida e engloba sexo, identidades e papeis de gênero, orientação sexual, erotismo, prazer, intimidade e reprodução. A sexualidade é vivida e expressa em pensamentos, fantasias, desejos, crenças, atitudes, valores, comportamentos, práticas, papeis e relacionamentos. Enquanto a sexualidade pode incluir todas essas dimensões, nem todas elas são sempre vivenciadas ou expressas. A sexualidade é influenciada pela interação de fatores biológicos, psicológicos, sociais, econômicos, políticos, culturais, legais, históricos, religiosos e espirituais (OMS, 2006).

Sendo assim para explanar cada fase desse desenvolvimento psicossexual, a partir de agora separo essa explicação em 4 etapas para facilitar a compreensão: infância, adolescência, vida adulta e terceira idade.

Na infância a primeira fase desenvolvida é a fase oral, iniciando aproximadamente do 0 aos 18 meses de vida. Nessa etapa da vida a energia vital se manifesta pela boca. É através da boca que o bebê descobre o mundo e seus primeiros contatos afetivos. O bebê sente-se bem quando suas necessidades orgânicas internas são saciadas através da amamentação. Ele sente-se seguro e calmo também quando é acariciado e aconchegado ao colo.

Aproximadamente do 1 aos 3 anos de idade passa a ser desenvolvida a fase anal. Nessa etapa da vida a energia vital se concentra no ânus, marcada pelo controle dos esfíncteres. Esse estágio de modo geral, representa o início da autonomia da criança. É o momento do desfralde. As crianças frequentemente brincam com a retenção de suas fezes e urina. Muitas revelam o prazer que sentem na região anal retardando o ato de defecar até a hora em que o bolo fecal acumulado produz violentas contrações musculares e sua passagem pelo esfíncter anal causa grande excitação das mucosas. Freud considera a retenção das massas fecais uma excitação masturbatória da zona anal.

A partir do terceiro ano de vida até aproximadamente os 6 anos de idade é desenvolvida a fase fálica. Nessa etapa da vida a atenção da criança é voltada para os órgãos genitais. Ela começa descobrir as diferenças entres os sexos e a manipulação dos genitais. Esta fase se caracteriza por uma grande curiosidade sexual. As crianças adoram olhar as pessoas desnudas e serem olhadas e se manipularem. A manipulação é prazerosa e com isso a criança tende a repeti-la outras vezes. Freud denominou esta etapa da vida de “Fase fálica”, devido à primazia das sensações prazerosas estarem anatomicamente localizadas na região do “falus” genital (Freud, 1958).

É nessa fase também que há a descoberta do mundo em pares e, normalmente, a menina passa a enxergar seu pai como seu primeiro amor e o menino à mãe, criando uma “competição” inconsciente com o sexo oposto. A este “triângulo amoroso” Freud denominou de “Complexo de Édipo”, baseado na peça homônima “Édipo rei”, escrita na antiguidade por Sófocles. Freud define o Complexo de Édipo como um conjunto organizado de desejos amorosos e hostis que a criança experimenta relativamente a seus pais.

Entrando em declínio o complexo de Édipo, ou seja, quando a criança passa a ter consciência de que é impossível realizar seu duplo desejo, amoroso e hostil, em relação aos pais e não podendo se livrar do “rival” (o genitor do mesmo sexo), a criança procuraria se identificar com ele (Freud, 1958). Neste período o pai e a mãe se tornariam modelos do papel masculino e feminino para filho e filha respectivamente e inicia-se o desenvolvimento do período de latência, aproximadamente entre os 6 e 10 anos de idade.

Nessa etapa da vida a energia vital é canalizada pelo intelecto. Os vínculos de amizade mostram-se mais fortes, é nessa fase que as crianças já estão na escola e a formação de grupos de identificação contribuem para a experimentação da identidade pessoal, sexual e social.

Com o início da puberdade, aproximadamente dos 10 aos 12 anos de idade, passa a ser desenvolvida a fase seguinte, a fase genital. Nessa etapa o estímulo dos hormônios sexuais intensifica os impulsos sexuais, caracterizada também pelas mudanças físicas, psicológicas e novas descobertas, ocorrendo o início da atividade sexual genital propriamente, ou seja, a masturbação é retomada.

A partir dos 10 anos de idade, inicia-se a etapa da adolescência onde o desenvolvimento psicossexual se divide em 3 fases. Na primeira, que chamamos de inicial/precoce, desenvolvida aproximadamente até os 14 anos de idade, as fantasias sexuais passam a ser comum, ou seja, se masturbar pensando em alguém e com isso trazer o sentimento de culpa. Nessa fase é que começa o “ficar”.

Na 2° Fase que chamamos de adolescência média, desenvolvida aproximadamente dos 14 aos 17 anos de idade é marcada pela menarca (1° menstruação) e pela semenarca (polução noturna – ejaculação dormindo). Nessa fase o “ficar” passa a ser mais comum e surge a experimentação sexual. É a partir daqui que podem surgir também o temor do desempenho para os meninos e a ansiedade sobre a atratividade sexual para as meninas (sedução para meninas).

Mas chega um momento em que o adolescente passa a se sentir mais confortável com a sua sexualidade, iniciando assim a 3° fase, que chamamos adolescência tardia, desenvolvida aproximadamente dos 17 aos 20 anos de idade. Nesse momento o comportamento sexual torna-se mais expressivo, com relações mais íntimas, mais desenvolvidas e com mais estabilidade afetiva, favorecendo a busca de um objeto amoroso único. O namoro apaixonado é frequente. À medida em que há maior maturidade psicológica e social, o jovem evolui para a independência econômica da família e para um relacionamento afetivo mais duradouro.

Com a chegada dessa maturidade somos considerados adultos. O desenvolvimento psicossexual então, é dividido em duas fases. A 1° fase, chamada de jovem/adulto que ocorre aproximadamente dos 20 aos 40 anos de idade é o ápice da sexualidade. É o período do apogeu da sexualidade do indivíduo, que já se encontra suficientemente maduro e seguro para estabelecer sólidos vínculos afetivos e usufruir adequadamente e prazerosamente de sua sexualidade. As mulheres desenvolvem e desejam realizar todo o seu potencial sexual, principalmente após os 30 anos. Os homens seguem no auge sexual até próximo dos 40 anos.

A partir dos 40 anos de idade até aproximadamente os 60 anos, outras coisas passam ter mais prioridade do que a sexualidade e as relações sexuais. Aqui inicia-se a 2° Fase, chamada fase adulto. Como outras coisas passar a ser prioridades e a relação sexual passa a ficar em segundo plano, isso pode afetar diretamente os relacionamentos. Além disso, essa diminuição natural da atividade sexual pode gerar descompasso entre alguns casais.

E como sexo é vida e hoje entendemos que quando não anulado totalmente da vida do indivíduo e tratado com naturalidade, a sexualidade é desenvolvida até a terceira idade, ou seja, após os 60 anos.

“O papel da sexualidade após os 60 anos é de fundamental importância para a saúde física e psíquica de homens e mulheres. Qualquer disfunção nessa fase de existência, merece ser avaliada com cuidado porque pode ser sinal indicativo de outros problemas de saúde”. Carmita Abdo

Fazer sexo nessa fase da vida significa ter saúde, pois, quando a sexualidade passa a ser assunto problemático, é um sinal de alerta para que outros aspectos da saúde sejam investigados cuidadosamente.

Por fim, ressalto a importância de conhecermos e entendermos o nosso desenvolvimento psicossexual, pois, assim é possível prevenir abusos sexuais frequentes em nosso meio, principalmente em crianças e adolescentes que são vulneráveis e se submetem a manipulação por sentirem prazer. Além disso, sexo é sinal de vida, de interesse, de saúde. Quando homens e mulheres interrompem a atividade sexual, seja por crenças, tabus, preconceitos, falta de educação sexual/conhecimento e/ou informações inadequadas, acabam abandonando outras formas de prazer na vida e geralmente se desinteressam pelo contato social.

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