Cuidar e Viver para o Outro é Prova de Amor ou Falta de Amor-Próprio? 

Sabe aquela pessoa que acredita que é fazendo que ela tem valor para os outros? Que devota sua própria vida ao cuidado do outro e acredita que é sua a responsabilidade por tudo e fazer o outro ficar bem. Essas pessoas mal sabem que esses comportamentos são sinais de dependência emocional. 

O perfil cuidador é considerado distúrbio de prioridade, ou seja, sintoma de DEPENDÊNCIA EMOCIONAL, iniciada na infância durante a relação da criança com os pais, irmãos, avós etc. Durante o período do processo de formação da personalidade e estrutura psíquica da criança dentro do ambiente em que ela vivia, entendeu que deveria agradar, ser obediente, ser perfeita para se sentir amada, anulando assim, seus desejos. 

Esse ambiente normalmente é aquele quando a criança recebeu responsabilidades de cuidar de alguém, da casa, teve que fazer trabalhos domésticos ao invés de brincar. Ambiente onde há muita rigidez dos pais, cobranças, brigas, imposição e a criança teve que assumir responsabilidades que não eram suas. Como por exemplo, o irmão ou irmã mais velho(a) quando teve que cuidar dos mais novos e ainda ser o exemplo; em ambiente de muitas brigas, violência e conflitos entre os pais, e a criança assumiu em defesa da mãe ou do pai e passa a entender que é sua responsabilidade cuidar e proteger um deles, que precisa ser forte.  

Quando a criança se coloca no papel de cuidar, proteger e ser um pilar de sustentação em um ambiente ou relação problemática. Quando há muita opressão dos pais e a criança tem que fazer as vontades deles. Até mesmo ir à escola sem estar se sentindo bem, anulando assim inconscientemente suas próprias necessidades e desejos por medo de desapontar e não ter a atenção e o amor dos seus pais. Quando a criança faz papel de esposa do pai ou marido da mãe quando eles se separam. Quando ela carrega segredos de traição dos pais que pedem para não contar. Ela acredita que carregando esse peso, só assim ela será amada, protegendo e obedecendo seus pais ou familiares. Acredita que não pode dar trabalho para os outros, que ela não pode ser mais um problema para os pais e aprende a se virar e resolver sozinha os problemas, afinal ela não quer ser mais um problema para eles. 
Através desses comportamentos forma-se um perfil dependente, o famoso perfil cuidador, que se exigirá ser perfeccionista, que não pode errar, que vai se anular para agradar o outro, que se ocupa do problema dos outros para não ter que lidar com os seus próprios problemas e vazios. Será aquela pessoa com um nível de autocobrança significativo, que carregará o sentimento de culpa por tudo, que agirá pelo medo… Enfim, ser cuidador é muito pesado!  

Certamente esse cuidado não é prova de amor e sim falta de amor-próprio! Porque esse perfil ao invés de cuidar primeiro de si, vai querer agradar o tempo todo, sendo solidário, camarada, porém escondendo uma necessidade, uma expectativa: eu faço, mas eu espero retorno: sua atenção, seu amor, seu cuidado, sua validação.  

Dificilmente esse perfil consegue assumir a responsabilidade pela sua própria vida, porque a do outro vem em primeiro lugar. O cuidador, tende cobrar a validação e o reconhecimento e quando desaponta alguém, por não ser reconhecido, o sentimento de culpa está presente. Isso chama-se renúncia altruística, mecanismo de defesa que em troca de aplausos, reconhecimento, amor e atenção, a pessoa renuncia aos seus próprios desejos em prol do outro. 

Na nossa sociedade há vários exemplos desse tipo de perfil que acredita que tirar da sua própria boca e dar ao próximo é um ato de amor. Porém, essa pessoa esquece que antes dela pensar em ajudar alguém, a primeira pessoa que deve ser ajudada, é ela própria. A partir disso ela está apta para olhar para fora.  

No cotidiano você conhece alguém que assume responsabilidades que não são inerentes à sua competência, como por exemplo no trabalho. Sabe aquela pessoa que deseja fazer mais e mais, tudo para se mostrar eficiente, que bajula o chefe ao invés de focar em ser boa naquilo que de fato ela se reconheça como boa. Outro exemplo é aquela pessoa que deixa de comprar algo para si, mas compra para os pais, ou para um amigo. Aquela pessoa que vai a lugares ou está com pessoas que não gosta, só para agradar os outros? Aquela pessoa que está atolada de coisas para fazer, tudo porque não consegue falar NÃO, por medo de desapontar e ter que parecer boazinha? 

Esse perfil encontra inconscientemente formas de negar seus próprios desejos, tudo para manter a boa relação afetiva e social, mas isso dói, é pesado carregar o mundo nas costas, querer agradar a todos e esquecer de agradar a si. Afinal, no dia a dia o que esse perfil percebe é: quanto mais eu faço, mais sou cobrada para fazer e não tenho o mesmo em troca. 

Mas como aprender a olhar para a si? Primeiramente você precisa identificar com ajuda terapêutica em que momento da sua infância ou adolescência que você precisou ser cuidado ou se sentir reconhecido e não teve isso? Ao contrário, não teve a atenção que gostaria, pois ao invés disso você teve que cuidar de alguém, seja dos seus pais, de um irmão, da casa, ser perfeito, não decepcionar seus pais, ser exemplo em casa e foi impedido de fazer o que você queria em prol de alguém, seja por sua opção ou por imposição familiar. 

A partir disso pensar o que você gostaria de ter feito para você, por você que ainda não fez? Buscar entender quais são os seus sonhos, seus objetivos de vida, quais são as coisas que você ama fazer e focar nisso. Entendendo que você é responsável pela sua vida. Assumir seus desejos, suas vontades, assumir ser você em prol de si. Sendo assim, você se colocando em primeiro lugar, é aprender a dizer mais “NÃO´s” e por consequência dizer mais SIM para você. 

Costumo utilizar a metáfora do avião: quando você vai viajar de avião e a aeromoça antes de decolar, passa as informações de segurança em caso de emergência e o que ela fala quando as máscaras caírem, o que você deve fazer? Colocar primeiro a máscara em você! Afinal, quando você assume a responsabilidade pela sua vida e se cuida, só assim estará apta para ajudar os outros. Portanto, sempre se pergunte: pra quem você vive? É para você ou para os outros? Que seja em primeiro lugar pra você! Assim você se sentirá muito mais leve quando notar que não precisa de carregar o peso de ninguém e provar nada a ninguém! 

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