O ciclo de resposta sexual é um conjunto de alterações físicas e psicológicas que seguem uma sequência previsível e que são desencadeadas por estímulo erótico. O estudo do funcionamento sexual humano, do ponto de vista fisiológico, só foi iniciado de modo científico a partir de 1954, com os estudos dos dois sexólogos William Masters e Virgínia Johnson, cujos resultados foram publicados pela primeira vez em 1966, no livro “A Resposta Sexual Humana”. Até então, só se tinha estudado o sexo do ponto de vista da reprodução, deixando a sexualidade para os estudos sociológicos e psicológicos.
Em 1974, Helen Kaplan instituiu um modelo linear da atividade sexual que divide o ciclo de resposta sexual: desejo, excitação, orgasmo e resolução. Porém, alguns outros estudos começaram a acontecer em relação ao feminino, por começar a perceber uma diferença nessa resposta sexual. A mesma não acontecia da mesma forma que acontece com os homens, que é 100% linear, ou seja, depois que acontece o orgasmo o homem precisa de um momento que chamamos de período refratário para que ele volte a iniciar esse ciclo lá do início novamente. E para a mulher isso não acontece.
Quem trouxe essa teoria/conhecimento foi a Dra. Rosemary Basson em 2004, quando ela explica o ciclo de resposta sexual feminino e demonstra que para as mulheres a motivação para o sexo é diferente. Enquanto, que para os homens basta hoje em dia trocar nudes ao longo do dia para libertar a tensão sexual, para a mulher ela precisa do bem-estar, do contato, da intimidade, ou seja, uma satisfação sexual que pode ser física, através do orgasmo e/ou uma motivação emocional. Sempre digo que para nós mulheres somos como um fogão a lenha, que vai esquentando aos poucos e precisa ir acendendo a chama com atitudes ao longo do dia. E quanto mais estímulos não sexuais e/ou eróticos, mais suscetíveis ao sexo as mulheres ficam.
É alto o índice de mulheres que não conseguem atingir o orgasmo, mas saiba que nem sempre problemas com o prazer estão relacionados a ter dificuldades para chegar ao clímax. A dificuldade por exemplo, pode existir por algum problema na etapa 1 – o desejo, onde o mesmo já nem existe. A esse bloqueio/disfunção, por exemplo, chamamos de desejo hipoativo ou baixo libido. Certamente para conseguirmos classificar corretamente as disfunções sexuais, é importante entender como funciona o ciclo de resposta sexual. Dessa forma, passo a detalhar a partir de agora as 4 etapas do ciclo de resposta sexual:
Fase 1 – Desejo
É nessa etapa que tudo começa. Basta um simples olhar para alguém que te atrai e te desperta o interesse, que o cérebro é acionado liberando a dopamina, neurotransmissor responsável pelo prazer. Mas o desejo é subjetivo, ele varia de pessoa para pessoa. Ele é iniciado através da fantasia, da nossa imaginação, da nossa criatividade e de estímulo dos nossos 5 sentidos. Vale destacar que para os homens, o estímulo visual é mais aguçado e para as mulheres o estímulo do tato e relacionado ao envolvimento, as carícias e a admiração.
A questão hormonal influencia também na questão do desejo. Nas mulheres os hormônios responsáveis são a testosterona e o estrogênio e no homem a testosterona.
Fase 2 – Excitação
Após sair dessa fase mental que é a do desejo, onde já se iniciou com as preliminares, a partir daí inicia-se a fase de demonstração física, onde nas mulheres, por exemplo, os mamilos se enrijecem, notado nos seios um pequeno aumento, ocorre a lubrificação vaginal, o clitóris aumenta e enrijece, há uma elevação do útero/canal vaginal que normalmente, sem estar excitada passa de aproximadamente 10 cm para 15 cm. Nos homens a demonstração física se dá através do pênis que fica ereto e rígido, testículos e glande há um pequeno aumento, bolsas escrotais menos rugosas, aumento de sensibilidade nos mamilos e expulsão de líquido pré-ejaculatório.
Importante ressaltar que quando não há o estímulo na etapa do desejo, não tem como ir para a fase 2 que é a excitação.
Para a mulher, geralmente é mais fácil perder a excitação, pelo fato dela ficar com a cabeça a mil, pensando em tudo, menos concentrada no momento. Na mente dela podem estar passando por exemplo, a preocupação com o filho, com a mãe, pensando no que tem que fazer depois, como foi o dia etc. Já para o homem, eles geralmente têm o foco em uma coisa ao mesmo tempo.
Através dos estudos, foi notado que o tempo que se leva para preparar a vagina, ficar lubrificada, excitada, e ter uma relação sexual de qualidade, é em torno de 15 minutos a 30 minutos. Pois a quantidade de sangue que precisa ser levada para o pênis é em torno de 40ml a 80 ml. Já para as mulheres são necessários cerca de aproximadamente 400ml de sangue para preencher todo o assoalho pélvico. Por isso, a importância das preliminares e sabemos que para a mulher o sexo está relacionado muito mais ao bem-estar, ao contato, à intimidade, no contato, ou seja, uma satisfação pessoal.
Ressalto aqui a importância de uma musculatura forte para aprisionar esse sangue, manter a ereção tanto do pênis quanto a do clitóris e no caso das mulheres conseguirem ter uma lubrificação mais intensa.
Infelizmente é aqui que os casais pecam, pois pulam esta etapa das preliminares. Muitas vezes porque não há o diálogo, fazendo com que o cônjuge não saiba a maneira que você gosta, o que te excita.
Algumas pesquisas demonstram que a grande maioria das mulheres que estão em relacionamentos muito longos, não pensam em sexo ao longo do dia, elas são mais neutras e a partir daí iniciam a relação sexual sem ter o desejo. Ou seja, a mulher pode receber o estímulo, ficar excitada e esse desejo só vir depois e só então sentir motivação para atividade sexual.
Fase 3 – Orgasmo
Essa fase se caracteriza por ser curta e intensa. Para os homens dura cerca de 3 a 10 segundos e para a mulher a duração é maior, aproximadamente 20 segundos.
O orgasmo é o ponto alto, é o clímax do prazer que você identifica através da taquicardia, respiração acelerada, sudorese e/ou sensação de frio ou calor; contrações involuntárias dos músculos do corpo, pélvico e esfíncter anal; liberação de noradrenalina e ocitocina. Sensação de intenso prazer, de perda dos sentidos, de desligamento do mundo externo.
Aproveito para dizer que, para as mulheres, é possível ter orgasmos múltiplos. Não importa onde se tenha, se é clitoriano, vaginal, o importante é a sensação de prazer. O fato de a mulher não conseguir ter um orgasmo vaginal, não significa que ela não saiba o que é ter um. Isso foi uma teoria de Freud que já caiu por terra, onde ele dizia: a mulher que não tivesse o orgasmo vaginal era considerada imatura.
Outro detalhe é que para os homens, eles podem sim ter orgasmos sem ejaculação, o orgasmo seco que chamamos. Isso ocorre devido a musculatura estar fortalecida e dessa forma a musculatura consegue aprisionar o sangue no pênis, mantendo a ereção e consegue controlar a ejaculação. Por isso, a importância também do homem fazer exercícios íntimos também. Alguns homens afirmam que a sensação de prazer ao atingir um orgasmo sem ejacular, é tântrica.
Fase 4 – Resolução
Esta é a fase do relaxamento muscular, sensação de bem-estar geral, alívio, cansaço. Após o orgasmo, o homem fica mais sonolento, há uma grande elevação do nível de prolactina produzido no corpo e ele entra no período refratário, de descanso e não pode produzir uma nova ejaculação sem que esse período de descanso ocorra, mesmo que o estímulo sexual se mantenha ou até se intensifique. Enquanto, que para a mulher, devido ao potencial multiorgástico e ao ciclo de resposta sexual ser circular, ela consegue ter outros orgasmos se for estimulada logo após o primeiro. Não precisando desse período refratário, de descanso entre um orgasmo e outro. Entende por que a mulher fica agitada na maioria das vezes e querendo mais, enquanto o homem na maioria das vezes vira para o lado e dorme?
Bom, compreendendo essas etapas, através da queixa do paciente, é possível analisar e compreender em qual dessas fases ocorre o transtorno/bloqueio. A partir disso podemos identificar as seguintes disfunções sexuais: transtorno do desejo como o desejo hipoativo, o transtorno da excitação como a disfunção erétil, o transtorno do orgasmo, como a anorgasmia, a ejaculação precoce, a ejaculação retardada, onde as causas podem ser psicopatológicas ou também orgânicas.
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